Usando a palavra Discovery fora de hora
Existem modelos que demonstram que toda comunicação tem ruído, que o que eu falo não necessariamente o outro entende da forma como eu tive a intenção, quando falei. E este artigo é sobre o emprego da palavra Discovery ou descoberta em inglês.
A pesquisa qualitativa me deu a oportunidade de treinar a minha atenção ao que as pessoas falam e como falam, como expressam sua compreensão de mundo. As aulas também me levam a esse lugar de escuta atenta, tentando encontrar o que aflige o aluno e o impede de entender algo. Some-se a isso o grande exercício que é fazer uma tese de doutorado, escolhendo e definindo termos para explicar um modelo (no meu caso) para uma audiência. Por muitas razões, portanto, tive que me tornar precisa na escolha de palavras quando falo e ficar muito atenta ao espectro de vocabulário do meu interlocutor, para não falar algo que essa pessoa não tem como entender.
O que eu vejo nas conversas entre profissionais de Produtos e UX é o emprego errado de palavras que carregam um significado e indicam uma metodologia de trabalho. São muitas, mas o foco é Discovery.
Essa palavra foi introduzida no vocabulário de UX através da ferramenta do Duplo Diamante. Logo no início do primeiro diamante existe alusão ao Discovery ou Descoberta. Descoberta é des-cobrir ou trazer à luz algo que estava fora da visão. No Duplo Diamante é o momento de descobrir oportunidades de negócios que estavam escondidas nos hábitos, nas formas de fazer e pensar das pessoas, nos seus propósitos e desejos de resolver problemas. Portanto, o Discovery tem relação direta com a Inovação.
Muitos usam essa palavra de forma descuidada (sloppy) demais. Tudo é Discovery!! Ter um produto no mercado, saber que seu desempenho está ruim e ir em busca da raiz do problema é Discovery, mas não é. Quando um produto já está no mercado, não estamos em busca de inovação e não vamos usar os métodos de pesquisa de inovação nessa hora! Meu Deus, não!!
Possivelmente a equipe tenha que fazer uma extensa análise de todas as variáveis de preço, logística, competição, comunicação, margem de contribuição e outros aspectos financeiros antes de analisar a interface e identificar se somente algum dos elementos da interface foi capaz de fazer tamanho estrago.
É óbvio que, se você é de UX e está lendo este artigo, você deve estar achando que eu (justo eu) estou relegando UX a um plano menor. Não estou. Mas não posso negar que, achar que tudo é por causa da interface é ingênuo e muito perigoso. Chamar toda responsabilidade para UX, só se você estiver 100% certo de que a c@g@d@ foi realmente responsabilidade da interface e dos elementos de interação.
A questão é, não use a palavra Discovery fora de hora, fora de contexto, só porque ela soa descolada e dá um ar farialimer e startupeiro à sua fala. É um ato irresponsável e eu sei que está espalhado por aí, tanto quanto schedular e talkei (um horror típico de pessoas que acham lindo ser colonizados, lavar banheiro em outros países). Para esse momento, use Identificar as Causas do Problema e pronto.
Se tiver interesse em um curso completo de UX Research, procure a Certificação em UX. Se quiser relembrar alguma metodologia específica, procure nos cursos gravados.
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